Era uma segunda-feira ensolarada,
uma típica tarde de início de primavera. Holmes acordou na sua cama de hotel
com o toque do telefone, porém não o atendeu imediatamente.
- Watson, algum de seus amigos
está ligando.
- Que amigos, você sabe que não
conheço ninguém aqui no Brasil – respondeu Watson sonolento sem abrir os olhos.
- Não importa, o telefone está ao
seu lado, atenda por favor, não aguento mais esse barulho – insistiu Holmes
Watson gemeu e virou-se para
atender a chamada.
- Alô?
- Sim, sou eu. – respondeu em tom
rabugento.
- O senhor está com o Sr. Holmes
dividindo o mesmo quarto, não está? – indagou com a voz um pouco insegura.
- Infelizmente sim, apesar de
termos pedido duas suítes. Se conseguiram liberar outra suíte, é tarde demais,
partimos amanhã de noite de volta para Londres...
- Na verdade senhor, estou com um
homem aqui que deseja muito ver o Sr. Holmes, acredito que seja importante, ele
me parece preocupado.
- Diga a
ele que espere então, senhor...
- Souza,
senhor, sou o senhor Souza.
- Então,
senhor Souza, peça para que ele nos aguarde no saguão de entrada.
-
Entendido, obrigado e desculpe o incômodo senhor.
Após quinze minutos, tempo
necessário para que os dois levantassem e se vestissem devidamente dentro do
quarto, que segundo Holmes não foi feito para abrigar dois seres humanos de forma
decente, saíram para encontrar o homem que os aguardava.
Em pé, esperando do lado de fora,
estava um homem fumando, tinha aspecto nervoso, com uma mulher ao seu lado
também fumando e parecendo preocupada. Foi o casal que veio ao encontro dos
dois após apagar com pressa seus cigarros.
- Sr. Holmes? – perguntou o homem
- É o que parece – respondeu Holmes
sem sorrir.
- Que bom que o encontramos,
ficamos sabendo que o senhor estava no nosso país e não conseguímos deixar de
procurá-lo. – começou a mulher aflita – desculpe, ainda não nos apresentamos,
somos o senhor e a senhora Santos.
- É um prazer conhecê-los – disse
Watson estendendo a mão com um sorriso claramente forçado.
- Sabemos que está aqui a
trabalho, porém, se tiver um tempo poderia tentar ajudar em nosso problema? –
perguntou a Sra. Santos.
- Na verdade – disse Holmes –
terminamos tudo o que viemos fazer há algumas horas, estávamos dormindo como
devem ter reparado, mas como não tenho nada melhor para fazer até amanhã aceito
ouvir o que tem a dizer.
- Oh, me desculpe, não queríamos
causar incômodos... – Holmes acenou com a mão para mostrar que não tinha
importância e ela deveria prosseguir – ahm... o que acontece Sr. Holmes é que
nosso filho está desaparecido desde sexta-feira, ou melhor, sábado de
madrugada, já estamos desesperados, a polícia não tem pistas, não sabemos mais
o que fazer....
- Certo, vou me inteirar sobre o
assunto e caso descubra algo irei ajudá-los, mas lembrem-se que ficarei até
amanhã a noite na cidade apenas.
- Qualquer ajuda será bem vinda e
bem paga Sr. Holmes – disse agradecido o Sr. Santos. – ele foi visto pela
última vez por alguns amigos em uma festa na madrugada de sábado, eles disseram
que ele saiu para buscar uma bebida as 4:30 e não voltou mais. A festa foi na
Universidade de São Paulo, em um espaço usado para eventos, é um local grande,
havia cerca de cinco mil pessoas no local, mas isso é tudo o que sabemos até
agora.
- Muito bem, voltarei para meus
aposentos agora pois necessito de um descanso para poder pensar mais
claramente, mas amanhã irei investigar o local da festa para tentar descobrir
algo a mais.
Eles combinaram um horário para
se encontrar no dia seguinte e depois se despediram.
Na manhã do outro dia Watson e Holmes
se dirigiram à universidade onde a festa havia acontecido. Na entrada, porém,
já havia alguns carros de polícia. Eles desceram do táxi e dirigiram-se a pé
da entrada até onde um grupo de policiais se aglomerava. O Sr. e a Sra. Santos também estavam lá, chorando e sem poder falar.
- Sou o Sr. Holmes, fui
contactado pela família para.... - disse Holmes apontando para o casal
- Fomos avisados senhor, siga por
favor até a raia olímpica, em frente. O corpo foi encontrado boiando lá agora há pouco por um dos instrutores de remo que trabalha no local.
Continuaram até onde o corpo
estava, e pediram para que levantassem o plástico que o cobria, para poder
analisá-lo. O chefe de polícia fez constatações enquanto Holmes observava o
cadáver, agachado:
- Como o senhor pode ver, ele tem
escoriações na lateral do rosto. Ele deve ter entrado em uma briga com os
seguranças da festa, devia estar bêbado, essas ocorrências são bastante comuns
nesse tipo de festa, onde as pessoas bebem muito. Esses jovens não sabem se
controlar, e a segurança está sempre muito longe de ser profissional...
- Obrigado chefe de polícia.... –
disse Holmes, cortando a fala do policial no meio.
- Lima senhor, chefe Lima.
- Certo, chefe Lima, já recolhi
todas as informações de que preciso por enquanto, vou continuar as minhas
investigações em um lugar mais reservado, se nos permite...
- Claro, fique a vontade.
- Me acompanha por uma volta
Watson? Gostaria de dar uma olhada nas imediações.
- Sim, sem problemas – respondeu Watson.
Decorrido um tempo em que Holmes
ficou bastante calado e os dois circularam pelo local onde tudo havia
acontecido, eles decidiram ir até a faculdade de arquitetura, onde poderiam
almoçar. Após servirem-se, sentaram-se em uma mesa no canto. Watson, aparentemente
muito calado e pensativo, parecia tentar entender e desvendar o que poderia ter ocorrido.
- Você parece intrigado, meu caro
Watson.
- Sim, estou tentando chegar a
uma conclusão sobre o ocorrido, não me sinto bem indo embora e deixando uma
família com tais problemas, sem ter ajudado.
- Quanto a isso não se preocupe,
escreverei uma carta agora mesmo explicando tudo e poderemos deixá-la na
delegacia a caminho do nosso hotel, voltaremos a Londres com tudo resolvido.
- Mas o quê? Os exames para saber
como ele morreu só estarão prontos em um mês, como chegar a uma conclusão sem
nem...
- Ora Watson, este crime não foi
feito por nenhum profissional, aliás, foi feito por pessoas desesperadas, o que
facilitou tudo.
- Me explique por favor.
- Mas é claro. O corpo não
apresentava nenhum sinal de assassinato em briga, ou facadas, ou
estrangulamento, ou nada que pudesse levar a pensar em uma morte desse tipo.
Nessas festas algumas pessoas utilizam drogas, e nem sempre sabem a origem, entende onde quero chegar?
- Mas e as marcas na lateral do
rosto e no lábio? Como foram feitas, então?
- Simples, os amigos da vítima
haviam comprado alguma droga e oferecido-a, o que fez com que ela viesse a
ter uma reação inesperada e morresse. Esses amigos não queriam se comprometer
nem com a família e nem com a polícia, com medo de serem considerados culpados,
por isso, e provavelmente também sob efeito de drogas, arrastaram e esconderam o corpo em um
dos muitos matagais aqui da universidade. Eles voltaram para casa, e perceberam
que não poderiam simplesmente deixar o corpo lá, pois iria começar a chamar a atenção e
alguém descobriria logo. Sem poder voltar para a universidade no domingo,
quando o acesso é controlado apenas para alunos, vale lembrar que eles não são
alunos daqui, voltaram apenas na segunda-feira. Esperaram até o movimento de
pessoas no local ser praticamente nulo, arrastaram o corpo, causando mais marcas
na face, e livraram-se dele no que lhes parecia a solução mais óbvia, o rio
onde pratica-se esportes ao lado do local da festa. O que eles não sabiam, por não serem estudantes
daqui, é que o rio, é na verdade uma raia, a água não corre, e por isso o rapaz foi
encontrado hoje pelas pessoas que frequentam o local. Um caso um tanto quanto
simples na verdade.
- Impressionante Holmes, a
família irá ficar feliz em saber que... ou não. Desculpe, acho que feliz não
foi a palavra correta a se usar.
- De fato não ficarão felizes,
meu caro Watson, infeliz escolha de palavras...
E terminaram de comer observando a variedade diversificada de alunos que frequenta o local, enquanto imaginavam quanto tempo demoraria seu voo de volta para Londres.
Curti bastante! E eu nem gosto de ler Sherlock Holmes...
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