terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O Viajante do Tempo

      Quando acordou ele olhou para o relógio do lado da cama. O visor marcava dez da manhã, isso queria dizer que ele deveria entrar em meia hora no trabalho, ou seja, às dez. Ele já sabia que o relógio estava meia hora adiantado, fora sempre assim, para evitar os atrasos, mas no fundo servia apenas para trabalhar as contas de subtração de trinta minutos.
      Se levantou praguejando pelo descuido, e se lembrando do fatídico instante em que, às oito da manhã, oito e meia no relógio de cabeceira, apertara o botão da soneca. Bendito botão da soneca, herói das pessoas com autocontrole e disciplina, vilão daqueles que prometem dormir à meia noite mas não colocam a cabeça no travesseiro antes das duas da manhã.
      Lavou o rosto, escovou os dentes, vestiu a mesma calça jeans do dia anterior e pegou a primeira camisa que encontrou no armário. Foi até a cozinha pegar uma banana e um croissant para comer no caminho e deu uma olhada de lado no relógio do microondas, marcava dez horas, esse era quinze minutos adiantado para o caso de se acostumar demais com a meia hora do relógio que ficava ao lado da cama.
      Desceu pelo elevador até o subsolo, manobrou o carro e fez o sinal para o porteiro abrir o portão da garagem. Quando parou no cruzamento para entrar na avenida que ligava ao centro da cidade, bateu o olho no computador de bordo do sedan, dez horas da manhã, ou seja, faltavam sete minutos para as dez no fuso horário corrente.
      Depois de perder a uma hora de praxe no trânsito, finalmente chegou ao escritório, o relógio de pulso, sempre pontual, marcava onze horas em ponto. Já esperava a bronca do chefe, não era a primeira vez que chegava atrasado, mas como foi pouco mais de uma hora, poderia compensar no fim do expediente e deixou a resposta preparada, ficaria hoje até as oito da noite. Abriu a porta e entrou:
      - Oooh Claudinho, devia ter vindo só à tarde, né?! Se tivesse chegado às dez e meia podia até ser culpa do horário de verão, mas se é pra chegar meio dia, que venha depois do almoço e pronto.

Ao ouvir as palavras do chefe, Claudinho ficou sem reação. O horário de verão…

sábado, 27 de setembro de 2014

Sherlock Holmes e o desaparecimento na USP

Era uma segunda-feira ensolarada, uma típica tarde de início de primavera. Holmes acordou na sua cama de hotel com o toque do telefone, porém não o atendeu imediatamente.
- Watson, algum de seus amigos está ligando.
- Que amigos, você sabe que não conheço ninguém aqui no Brasil – respondeu Watson sonolento sem abrir os olhos.
- Não importa, o telefone está ao seu lado, atenda por favor, não aguento mais esse barulho – insistiu Holmes
Watson gemeu e virou-se para atender a chamada.
- Alô?
- Alô, senhor Watson? – perguntou a já conhecida voz do atendente do Hotel.
- Sim, sou eu. – respondeu em tom rabugento.
- O senhor está com o Sr. Holmes dividindo o mesmo quarto, não está? – indagou com a voz um pouco insegura.
- Infelizmente sim, apesar de termos pedido duas suítes. Se conseguiram liberar outra suíte, é tarde demais, partimos amanhã de noite de volta para Londres...
- Na verdade senhor, estou com um homem aqui que deseja muito ver o Sr. Holmes, acredito que seja importante, ele me parece preocupado.
               - Diga a ele que espere então, senhor...
               - Souza, senhor, sou o senhor Souza.
               - Então, senhor Souza, peça para que ele nos aguarde no saguão de entrada.
               - Entendido, obrigado e desculpe o incômodo senhor.
Após quinze minutos, tempo necessário para que os dois levantassem e se vestissem devidamente dentro do quarto, que segundo Holmes não foi feito para abrigar dois seres humanos de forma decente, saíram para encontrar o homem que os aguardava.
Em pé, esperando do lado de fora, estava um homem fumando, tinha aspecto nervoso, com uma mulher ao seu lado também fumando e parecendo preocupada. Foi o casal que veio ao encontro dos dois após apagar com pressa seus cigarros.
- Sr. Holmes? – perguntou o homem
- É o que parece – respondeu Holmes sem sorrir.
- Que bom que o encontramos, ficamos sabendo que o senhor estava no nosso país e não conseguímos deixar de procurá-lo. – começou a mulher aflita – desculpe, ainda não nos apresentamos, somos o senhor e a senhora Santos.
- É um prazer conhecê-los – disse Watson estendendo a mão com um sorriso claramente forçado.
- Sabemos que está aqui a trabalho, porém, se tiver um tempo poderia tentar ajudar em nosso problema? – perguntou a Sra. Santos.
- Na verdade – disse Holmes – terminamos tudo o que viemos fazer há algumas horas, estávamos dormindo como devem ter reparado, mas como não tenho nada melhor para fazer até amanhã aceito ouvir o que tem a dizer.
- Oh, me desculpe, não queríamos causar incômodos... – Holmes acenou com a mão para mostrar que não tinha importância e ela deveria prosseguir – ahm... o que acontece Sr. Holmes é que nosso filho está desaparecido desde sexta-feira, ou melhor, sábado de madrugada, já estamos desesperados, a polícia não tem pistas, não sabemos mais o que fazer....
- Certo, vou me inteirar sobre o assunto e caso descubra algo irei ajudá-los, mas lembrem-se que ficarei até amanhã a noite na cidade apenas.
- Qualquer ajuda será bem vinda e bem paga Sr. Holmes – disse agradecido o Sr. Santos. – ele foi visto pela última vez por alguns amigos em uma festa na madrugada de sábado, eles disseram que ele saiu para buscar uma bebida as 4:30 e não voltou mais. A festa foi na Universidade de São Paulo, em um espaço usado para eventos, é um local grande, havia cerca de cinco mil pessoas no local, mas isso é tudo o que sabemos até agora.
- Muito bem, voltarei para meus aposentos agora pois necessito de um descanso para poder pensar mais claramente, mas amanhã irei investigar o local da festa para tentar descobrir algo a mais.
Eles combinaram um horário para se encontrar no dia seguinte e depois se despediram.
Na manhã do outro dia Watson e Holmes se dirigiram à universidade onde a festa havia acontecido. Na entrada, porém, já havia alguns carros de polícia. Eles desceram do táxi e dirigiram-se a pé da entrada até onde um grupo de policiais se aglomerava. O Sr. e a Sra. Santos também estavam lá, chorando e sem poder falar.
- Sou o Sr. Holmes, fui contactado pela família para.... - disse Holmes apontando para o casal
- Fomos avisados senhor, siga por favor até a raia olímpica, em frente. O corpo foi encontrado boiando lá agora há pouco por um dos instrutores de remo que trabalha no local.
Continuaram até onde o corpo estava, e pediram para que levantassem o plástico que o cobria, para poder analisá-lo. O chefe de polícia fez constatações enquanto Holmes observava o cadáver, agachado:
- Como o senhor pode ver, ele tem escoriações na lateral do rosto. Ele deve ter entrado em uma briga com os seguranças da festa, devia estar bêbado, essas ocorrências são bastante comuns nesse tipo de festa, onde as pessoas bebem muito. Esses jovens não sabem se controlar, e a segurança está sempre muito longe de ser profissional...
- Obrigado chefe de polícia.... – disse Holmes, cortando a fala do policial no meio.
- Lima senhor, chefe Lima.
- Certo, chefe Lima, já recolhi todas as informações de que preciso por enquanto, vou continuar as minhas investigações em um lugar mais reservado, se nos permite...
- Claro, fique a vontade.
- Me acompanha por uma volta Watson? Gostaria de dar uma olhada nas imediações.
- Sim, sem problemas – respondeu Watson.
Decorrido um tempo em que Holmes ficou bastante calado e os dois circularam pelo local onde tudo havia acontecido, eles decidiram ir até a faculdade de arquitetura, onde poderiam almoçar. Após servirem-se, sentaram-se em uma mesa no canto. Watson, aparentemente muito calado e pensativo, parecia tentar entender e desvendar o que poderia ter ocorrido.
- Você parece intrigado, meu caro Watson.
- Sim, estou tentando chegar a uma conclusão sobre o ocorrido, não me sinto bem indo embora e deixando uma família com tais problemas, sem ter ajudado.
- Quanto a isso não se preocupe, escreverei uma carta agora mesmo explicando tudo e poderemos deixá-la na delegacia a caminho do nosso hotel, voltaremos a Londres com tudo resolvido.
- Mas o quê? Os exames para saber como ele morreu só estarão prontos em um mês, como chegar a uma conclusão sem nem...
- Ora Watson, este crime não foi feito por nenhum profissional, aliás, foi feito por pessoas desesperadas, o que facilitou tudo.
- Me explique por favor.
- Mas é claro. O corpo não apresentava nenhum sinal de assassinato em briga, ou facadas, ou estrangulamento, ou nada que pudesse levar a pensar em uma morte desse tipo. Nessas festas algumas pessoas utilizam drogas, e nem sempre sabem a origem, entende onde quero chegar?
- Mas e as marcas na lateral do rosto e no lábio? Como foram feitas, então?
- Simples, os amigos da vítima haviam comprado alguma droga e oferecido-a, o que fez com que ela viesse a ter uma reação inesperada e morresse. Esses amigos não queriam se comprometer nem com a família e nem com a polícia, com medo de serem considerados culpados, por isso, e provavelmente também sob efeito de drogas, arrastaram e esconderam o corpo em um dos muitos matagais aqui da universidade. Eles voltaram para casa, e perceberam que não poderiam simplesmente deixar o corpo lá, pois iria começar a chamar a atenção e alguém descobriria logo. Sem poder voltar para a universidade no domingo, quando o acesso é controlado apenas para alunos, vale lembrar que eles não são alunos daqui, voltaram apenas na segunda-feira. Esperaram até o movimento de pessoas no local ser praticamente nulo, arrastaram o corpo, causando mais marcas na face, e livraram-se dele no que lhes parecia a solução mais óbvia, o rio onde pratica-se esportes ao lado do local da festa. O que eles não sabiam, por não serem estudantes daqui, é que o rio, é na verdade uma raia, a água não corre, e por isso o rapaz foi encontrado hoje pelas pessoas que frequentam o local. Um caso um tanto quanto simples na verdade.
- Impressionante Holmes, a família irá ficar feliz em saber que... ou não. Desculpe, acho que feliz não foi a palavra correta a se usar.
- De fato não ficarão felizes, meu caro Watson, infeliz escolha de palavras...
E terminaram de comer observando a variedade diversificada de alunos que frequenta o local, enquanto imaginavam quanto tempo demoraria seu voo de volta para Londres.

sábado, 17 de maio de 2014

Copa do Brasil, na Alemanha

Faltam poucos dias para a copa do mundo do Brasil, ou como eles dizem por aqui, WM (Weltmeisterschaft). E como esse é um tema de interesse meu e de muitos, não poderia deixar de falar sobre ele aqui no blog.
Primeiramente, sobre as manifestações e coisa e tal que vem ocorrendo: eu realmente acredito que esse não é o momento para tal. Se eu acho que deveríamos sediar a copa? Sim, agora sim. Se me perguntassem isso lá em 2007 quando fomos eleitos para sediar o evento, ai a conversa seria totalmente diferente. No presente momento não receber a copa seria muito mais prejudicial do que vantajoso. Além disso, não existe essa questão de mostrar ao mundo nossa situação. Eu sei pois estou morando fora e vivenciando isso. Não adianta nada causar o terror dentro do país achando que algum outro governo vai vir dar uma mãozinha na revolução. As reportagens que vemos aqui sobre o Brasil são sempre focando a falta de preparo e geralmente mostram o Rio de Janeiro. Como eles encaram isso aqui? Do mesmo jeito que nós no Brasil encaramos as manifestações no Egito, por exemplo. Olha-se para a TV, alguém comenta algo como “nossa, tá tenso lá hen”, e segue para a próxima notícia. Infelizmente nenhum gringo vai tirar nosso país da lama. Não me aprofundarei no assunto pois não é esse o intuito do tópico, enfim...
Marcão e Kahn, que mora aqui em Karlsruhe por sinal
Sendo assim vamos para o segundo tema: O Brasil vai ganhar essa copa? Acho muito engraçado o fato de que em sua grande maioria, os brasileiros não estão tão confiantes na seleção do Felipão, enquanto os estrangeiros sempre colocam-na como favorita ao título. Eu particularmente não acho que temos grandes nomes como já tivemos, afinal Fred está muito longe de ser um Ronaldo ou Romario, mas com o fator torcida entramos sim para o grupo que tem grande chance de levar o caneco, juntamente com Alemanha e Espanha, mas isso é só especulação de um cara que nem acompanha tanto assim o futebol internacional.
Sobre o clipe oficial da copa, eu realmente não gostei e acho que assim como a maioria das pessoas, prefiro ainda o Waka Waka da Shakira. Não é novidade para ninguém que não sou fã do Pitbull nem da Jennifer Lopez e muito menos da Cláudia Leitte, mas verdade seja dita, nossa axézeira humilhou a JLo no samba. Não adianta, o samba ainda é exclusividade nossa, vide a propaganda que colocarei aqui no final do post.
Por último vou falar do álbum da copa. Uma das coisas que me arrependo de não ter feito na vida é ter completado o álbum da copa de 2002. Sempre que remexo nas minhas velharias e vejo lá faltando figurinhas bate uma tristeza. E por esse motivo, além da grana necessária para completar um álbum que eu resolvi nem começar a coleção. Comprei um pacotinho só pra ter a felicidade de abri-lo, mas fora isso, só estou juntando as figurinhas da seleção alemã que ganho de graça no mercado perto de casa!
E é com a propaganda do Dante, com muita vergonha alheia que termino este post.

Bjsss, abraços e boa copa para todos!

domingo, 30 de março de 2014

Money for nothing

      Seguinte galera: sempre mostrei o lado positivo de se morar na Europa, mas não se enganem, nem tudo é melhor por aqui. Olha que eu não estou falando do clima! Resolvi escrever esse tópico pois existem algumas coisas pelas quais somos cobrados que simplesmente me deixam revoltado, então lá vai:

               1 – Não se cobra dinheiro para entrar na igreja. Não importa para que será usado o dinheiro. A igreja é um lugar que qualquer pessoa deve ter acesso, ela perde completamente o propósito se tiver uma taxa de entrada. Não quero saber se existem obras lá, se você quer cobrar para as pessoas verem seu trabalho coloque-o num museu, não em uma igreja. E se quiser reformá-la coloque uma caixa de doações voluntárias, como é feito em todos os outros lugares!!! Alguém consegue imaginar São Pedro com uma banquinha de tickets para entrar no céu? Fazendo desconto para estudante?

               2 – Cobrar para utilizar o banheiro é uma das coisas mais absurdas da vida. A vontade é de usar a parede quando cobram para adentrar o sanitário. A prática muito comum por aqui é colocar uma pessoa, geralmente velhinha, de aparência apelativa, na porta do banheiro pedindo moedas pelo uso. E ás vezes elas chegam a ser violentas na arrecadação, e reclamam de moedas menores que 50 cents, acham que são pobres mas nunca nem viram pobreza de verdade. Ir ao banheiro não é um luxo, é uma necessidade, seria como cobrar para respirar, beber água, comer.... ops, isso me faz lembrar do terceiro ponto.

               3 – Cobrar para cobrar. Sim, é isso mesmo que você leu. Essa é a mais engenhosa de todas as formas de cobrança injusta. Você quer comprar algo, mas, para tanto, é necessário adentrar um recinto, e pagar para isso. Ou seja, você é obrigado a pagar para poder pagar. O perigo disso tudo é que pode se tornar uma coisa infinita. No futuro você terá que pagar para entrar no restaurante, então pagar para usar o banheiro, pagar para poder comprar bebidas, ai pagar por um suco, depois pagar pelo açúcar, e por ai vai, até onde a imaginação do dono do negócio chegar...

      Sim, esse é o tópico da mesquinharia, mas quem não gosta de economizar que atire a primeira pedra =P
Bjss, abraços e boa noite!